Formação política e ideológica, e seu papel
estratégico
na luta contra a hegemonia capitalista nos sindicatos
e na sociedade
1. A formação política se constitui uma das áreas
estratégicas do movimento sindical e popular, para disputa de hegemonia contra
a ideologia, a política e a economia capitalistas, numa sociedade midiática.
Outra é a comunicação.
2. Disputar hegemonia é disputar projetos de mundo, de
Estado, de sociedade e de seres humanos. É verdade que vivemos um tempo
complexo, com profundas e aceleradas mudanças. Um tempo em que a dominação
capitalista se traveste de novas formas de gestão e métodos de produção, novas
sociabilidade baseadas no consumo, no individualismo, na competição e na
desenfreada busca de respostas individuais para problemas que só podem ser
resolvidos coletivamente.
3. As inovações tecnológicas, o endeusamento do mercado,
que transforma o dinheiro numa religião, a alienação crescente dos jovens, a
falta de perspectivas profissionais, a exclusão crescente das massas
trabalhadoras, colocam para nós o desafio de se debruçar nos estudos, abandonar
as respostas fáceis, os chavões, as palavras de ordens vazias de conteúdos, e
aprofundar na reflexão política da realidade em que vivemos.
4. Na disputa de hegemonia ideológica, política e social,
duas ferramentas são fundamentais aos sindicatos: A formação e a comunicação.
Ambas são instrumentos fundamentais para consciência de classe e ação política
dos trabalhadores, mais do que nunca os sindicatos precisam investir na
formação político-ideológica e na comunicação, junto aos dirigentes,
militantes, trabalhadores sindicalizados e na sociedade.
5.
Na concepção de Gramsci, os sindicatos devem atuar como
educadores coletivos da classe para sua emancipação, e para disputar hegemonia
na luta contra o capital e suas ideologias. A crise social e seus elementos
sócio-regressivos só aprofundaram as tentações neocorporativas e as práticas
burocráticas sob o discurso de sobrevivência e da prática possível diante das
dificuldades da ofensiva do capital.
6. Para a produção de seus valores a burguesia conta com
os aparelhos de hegemonia como o próprio Estado e suas instituições, os meios
de comunicação, a educação, e etc. No caso da classe trabalhadora, ela conta
com os sindicatos, os movimentos sociais e os partidos operários.
7. A formação e a comunicação sindical historicamente têm
tido um papel importante e estratégico na construção coletiva da concepção
sindical, de uma cultura de classe e da identidade da classe trabalhadora.
Trabalha com o resgate da trajetória dos trabalhadores (as) e do seu papel
enquanto agentes de transformação da sociedade. Cria as condições para que
esses trabalhadores (as) possam questionar e teorizar a partir da apropriação
do seu conhecimento acumulado e de sua própria prática. É um instrumento capaz
de, cotidianamente, aumentar o potencial e a qualidade de intervenção do
sindicato na sociedade.
8. O sindicato, como educador coletivo, tem como uma de
suas funções a formação integral dos
trabalhadores, levando-os ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades, em
contraposição a modelos que se centram no discurso do educador sobre o objeto
de estudo, com poder de qualificar o conhecimento do educando como certo ou
errado.
9.
O saber não é entendido como algo estático e acabado
que o educador entrega aos educandos; antes, é um direito cuja conquista exige
esforço individual e coletivo. O princípio pedagógico subjacente é de que as
palavras, conceitos e teorias só constituirão um enriquecimento se forem
resultado e prolongamento da nossa experiência e conquista pessoal, incorporados
à vida, em todos seus aspectos, dos trabalhadores.
10. No
desejo de contemplar as particularidades de vida e trabalho dos trabalhadores,
a formação e a comunicação se defrontam com a variabilidade do mundo do
trabalhador. Entendendo que determinados usos lingüísticos cristalizam e
reafirmam posturas ideológicas que tratam como idêntico o que é plural,
deixando passar despercebida a necessidade de intervir com políticas
específicas para tratar a diferenciação, a Escola prefere falar não em mundo do
trabalho, mas em mundos do trabalho, com o intuito de dar evidência a esse
caráter plural das relações de trabalho e das organizações de processos
produtivos.
11. Ao
mesmo tempo em que respeita essa diversidade dos mundos do trabalho e dos
trabalhadores, procura cultivá-las, convencida de que a diversidade, quando não
escamoteia os conflitos, mas os reconhece e os enfrenta, enriquece as partes
envolvidas. Por isso, dá destaque a dois temas que perpassam transversalmente
seu plano de trabalho, sendo abordados de diferentes maneiras nas atividades de
formação. Trata-se das questões de gênero e raça.
12. O
sindicato deve (ou deveria ser, mas nem sempre é) um espaço de formação de
mulheres e homens de múltiplas raças e etnias. A questão de gênero não é um
problema a ser discutido apenas por mulheres, assim como raça não é questão
apenas para negros ou etnias freqüente e, muitas vezes, impropriamente
denominadas “minoritárias”. Essas são questões que afetam toda a sociedade, e a
classe trabalhadora deve formular suas próprias políticas de reconhecimento e
valorização positiva da diferenciação e de enfrentamento do preconceito e da
opressão.
13. Assim,
o sindicato deve epensar essas diversas questões, procurando conjugar
dialeticamente o individual ao coletivo, o rigor à criatividade, eis o grande
desafio que o sindicato tem pela frente, na busca de homens e mulheres capazes
de intervir numa sociedade dinâmica e conflitiva enquanto indivíduos autônomos
unidos por uma mesma vontade política.
14. Novos
e antigos dirigentes devem aprofundar o conhecimento sobre as transformações
que estão ocorrendo no mundo do trabalho, as mudanças na economia e na
política, o papel das novas tecnologias, a questão do desemprego
estrutural, da informalidade que cresce,
da violência como produto da desigualdade social e da concentração absurda de
rendas que existe no mundo hoje, e no Brasil principalmente.
15. Devem
buscar entender os problemas relacionados com a gestão dos sindicatos, da
administração financeira, das relações com os funcionários, do cotidiano da máquina
sindical. Enfrentar a burocratização, cada dia mais presente nos sindicatos.
16. Como
a formação e a comunicação devem enfrentar questões como racismo, machismo, e
outros preconceitos na nossa sociedade e nos sindicatos? Não basta criar
secretarias de mulheres e de negros ou anti racismo, a verdade é que o
movimento sindical é machista, é racista, isso só se supera com combate
político, enfrentando cotidianamente as
manifestações, posturas, falas e gestos machistas ou preconceituosos nos
sindicatos, nas assembléias, nos locais de trabalho., ajudando a problematizar,
discutir e elaborar propostas, mas é preciso que isso se desdobre em outros
espaços, como na empresa, no serviço público, na escola, na família, nas
relações informais, na comunidade.
17. Os
movimentos anti racistas, anti sexistas e feministas têm crescido em suas
influências, muitos sindicatos já criaram secretarias específicas, na CUT os
coletivos de mulheres e anti racista sempre tiveram atuações afirmativas, e
precisam ser fortalecidos. Os sindicatos devem olhar isso como essencial para
construir um projeto de sociedade emancipada, livre, solidária e que respeite a
diversidade cultural.
18. Nos
sindicatos a formação e deve servir de instrumento, ferramenta, para construir
novas lideranças, novos militantes. Muitos trabalhadores e trabalhadoras
conhecem o sindicato através das assembléias, das mobilizações, das negociações
salariais, mas não entendem muito bem o que é o sindicato, de onde veio, para
que serve, como se organiza. Muitos só buscam o sindicato na hora das
dificuldades, não se sentem pertencentes ao sindicato.
19. Muitos
desses trabalhadores, nas lutas, se aproximam e depois são convidados a ser
dirigentes, e não sabem exatamente o que fazer na diretoria, que função
desempenhar, como pode ajudar, e os dirigentes mais velhos podem ajudar na
participação dos novos dirigentes, mas é papel da formação criar condições dele
se formar, com cursos, oficinas, palestras, seminários, enfim
20. Temos
estudos do DIEESE, do IPEA, do IBGE, enfim, que mostram que mais de 50% da
força de trabalho no Brasil estão na informalidade, são trabalhadores
desempregados, precarizados, terceirizados, que sobrevivem sem proteção de leis
trabalhistas, sem acesso à previdência social, sem garantia de futuro.
21. E
os sindicatos ainda hoje só olham para os trabalhadores de carteira assinada,
com emprego formal. Na políticas estratégicas para os desempregados,
trabalhadores informais, terceirizados, precarizados, e nenhuma intervenção
estruturante para a questão do trabalho nas metrópoles. Nossos sindicatos ainda
estão presos ao passado fordista, isto é, ao mercado de trabalho da grandes
corporações, de endereço determinado. Essa massa de trabalhadores estão
buscando formas alternativas de viver e de se organizar politicamente, veja a
multidão de camelôs, E a maioria dos desempregados são jovens, são mulheres,
moram nas periferias, nas favelas, são exércitos de reserva do narcotráfico.
22. Precisam
dialogar com a juventude trabalhadora, ouvir suas reivindicações, entender sua
linguagem, que se expressam nas artes, na musica, nas manifestações culturais,
no movimento estudantil, mas principalmente nos movimentos de rebeldia,
presente nas comunidades, nas periferias, como Hip Hop, Funk, grafites,
esportes. Se os jovens não vêm ao sindicato é porque nossa prática e nossos
discursos lhes são estranhos, corporativos, envelhecidos, burocratizados,
carrancudos mesmo. Eles vão buscar refúgio em outros lugares, como drogas,
seitas evangélicas, torcidas organizadas, etc.
23. A
consciência ambiental está crescendo nos movimentos sociais, as lutas pela preservação da água, da
natureza, das praias, contra a poluição, os desmatamentos, e destruição da
natureza, mas ainda é pouco. O capitalismo é o grande responsável pela
destruição da vida, do ecossistema. O capitalismo sobrevive da produção de
lucro, da exploração do trabalho humano e da natureza, e para isso ele destrói
as forças produtivas. Ele é um destruidor de forças produtivas. Defender a
natureza é combater o capitalismo, isso o movimento sindical está começando a
compreender
24. Desde
o surgimento dos novos movimentos sindicais, a comunicação sindical passou por
diversas fases. Dos materiais sindicais feitos de forma amadorística na
primeira fase, ao período de militância, onde os profissionais da comunicação
eram confundidos com membros dos sindicatos para os quais trabalhavam sem
direitos ou pagamento de horas extras, muita coisa mudou.
25. Esse
crescimento da comunicação sindical, como é possível observar, está
estreitamente ligado ao crescimento do sindicalismo. À modernização e
dinamização, com a ampliação do quadro de sócios das entidades, expansão das
atividades, à mobilização e as grandes greves, bem como à formação das centrais
sindicais, que passam a estimular a criação de novos mecanismos de comunicação
e a discussão de políticas para o setor. A partir deste período, a comunicação
sindical extrapolou os materiais impressos.
26. No
campo da comunicação, a Central Única dos Trabalhadores, em sua estratégia de
fortalecer o projeto sindical cutista para a disputa de hegemonia na sociedade,
tem intensificado sua política de comunicação priorizando projetos e ações
nacionais que resultem em maior visibilidade à CUT e contribuam para o
fortalecimento da Central. É prioridade a adoção de uma política de comunicação
que resulte em maior visibilidade às lutas, campanhas, princípios, valores e
propostas da Central e aos avanços e conquistas da classe trabalhadora. Ganha importância o projeto de produção de vídeos e de
web rádio, com programas de curta duração sobre temas do mundo do trabalho e
das lutas dos trabalhadores.
27. No
que tange à formação, temos investidos na construção de um projeto permanente
de formação, ancorados na Política Nacional de Formação, e nas diretrizes
estratégicas do ultimo congresso de nossa Central, na formação de novos
dirigentes, formação de formadores, colocando a formação como tema transversal,
que atravessa e dialoga horizontalmente com as outras temáticas e secretarias
da CUT. Existem dificuldades, mas vamos superando com criatividade, paciência,
perseverança, diálogo permanente, e vontade política de construir um
sindicalismo conectado com as tarefas e as demandas da classe trabalhadora diante do sócio metabolismo capitalista, no
sentido de resistir, superar e construir uma sociedade justa, fraterna,
socialista, com seres humanos plenos e emancipados.
Por:
Helder Molina - Historiador,professor
da Faculdade de Educação da UERJ, mestre em Educação, doutorando em Políticas Públicas
e Formação Humana, pesquisador e educador sindical e popular, assessor de
formação da CUT-RJ