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Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.” *Kal Marx “os comunistas nunca devem perder de vista a unidade da organização sindical. (Isto porque) a única fonte de força dos escravos assalariados de nossa civilização, oprimidos, subjugados e abatidos pelo trabalho, é a sua união, sua organização e solidariedade” *Lenin

sábado, 24 de setembro de 2011

Mulher Comerciária: Trabalho e Família

Mulher Comerciária: Trabalho e Família
Esta publicação foi elaborada com o propósito de divulgar análises periódicas sobre o trabalho no setor. Para tanto, foram utilizados os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED, resultante do convênio DIEESE/Seade/MTE – FAT e de parcerias regionais no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza e São Paulo.
Comércio: expressiva participação feminina
Bastante expressiva a proporção mão de obra feminina no comércio em relação ao total de mulheres ocupadas. Em 2009, nos mercados de trabalho metropolitanos pesquisados, esta proporção variou entre 13,9% da população feminina ocupada na Região Metropolitana de Belo Horizonte a 19,8%, na de Recife.

A atividade comercial se caracteriza pela singularidade do equilíbrio de gênero, se comparada aos demais setores econômicos. Enquanto os homens são maioria na construção civil e indústria e a mão de obra feminina predomina nos serviços, no comércio, a proporção de mulheres correspondia a praticamente metade dos ocupados, variando entre 43,3%, em São Paulo, e 48,5%, em Salvador.

Entre as ocupadas no comércio, cerca de 60% das mulheres eram assalariadas, forma de inserção que registra menor proporção na Região Metropolitana de Fortaleza (41,4%) e maior na de Belo Horizonte (71,3%).

Quase metade dos assalariados no comércio são mulheres, o que corresponde a cerca de 840 mil comerciárias nas regiões analisadas. Porto alegre apresenta a maior proporção de mão de obra feminina (45,6%) e Fortaleza, a menor (38,2%).
Extensas jornadas

A jornada de trabalho extensa é um dos grandes desafios a serem enfrentados pela categoria. Trabalhar nos domingos e feriados e permanecer no estabelecimento além do horário contratado para garantir a venda e, conseqüentemente, a manutenção da renda, são comuns entre os que atuam no setor.

A jornada das comerciárias, em 2009, ainda que ligeiramente inferior à dos homens, ultrapassou a jornada legal em todas as regiões pesquisadas, exceto em Belo Horizonte (43h).

No momento em que se debate a redução da jornada de trabalho no país, informações adicionais sobre o uso do tempo contribuem para demonstrar a sobrecarga que habitualmente recai sobre os trabalhadores do comércio. No caso das mulheres, essa problemática se intensifica pela divisão desigual das tarefas familiares e domésticas.
Dados do IBGE comprovam essa dura realidade. Em 2007, as mulheres de 10 anos ou mais de idade dedicavam 22,3 horas semanais aos afazeres domésticos, enquanto os homens destinavam apenas 5,2 horas a essas tarefas. Como conciliar responsabilidades familiares e vida pessoal com tamanha jornada e o trabalho aos finais de semana?
Menores remunerações

Um dos fatores que revelam a desigualdade de gênero no mercado de trabalho ainda é a remuneração. Para a análise, tomou-se como referência o rendimento médio por hora trabalhada, já que as jornadas das comerciárias são ligeiramente menores que a dos comerciários. Em 2009, com exceção de Fortaleza e Recife, as mulheres recebiam em média 88,5% do rendimento dos homens. Nota-se que a desigualdade salarial é maior no Sul e no Sudeste e menor nas regiões Norte e Nordeste. Mesmo quando há um equilíbrio nos rendimentos, situação verificada em Fortaleza (102,5%) e Recife (100%), a realidade não fica mais alentadora, visto que os rendimentos são extremamente baixos.

As muitas faces da comerciária

A maior parte das mulheres assalariadas no comércio é adulta, com idade entre 25 e 39 anos. Estas correspondem a 45,1% das trabalhadoras em São Paulo e chegam a 52,6% em Salvador. As jovens entre 16 e 24 anos também têm participação expressiva e correspondem a aproximadamente um terço da categoria. Comerciárias mais maduras, com 40 anos ou mais, encontram-se em maior proporção em Belo Horizonte (19,3%) e têm menor representatividade no Distrito Federal (12,9%). A significativa presença dessas mulheres adultas é acompanhada também da alta proporção de comerciárias cônjuges, entre 43,8%, em Porto Alegre, e 32,7%, em Belo Horizonte. Vale ressaltar que não é desprezível o percentual de mulheres que exerce a chefia das famílias - aproximadamente 15% nas regiões pesquisadas declararam serem chefes de famílias.

Outro ponto que merece destaque é a parcela de mulheres que ocupa a posição de filhas. Os dados revelam que a proporção de comerciárias filhas, ou seja, que residem as famílias de origem, é maior que a de mulheres jovens (1/3), em quase todas as regiões, com exceção do Distrito Federal e Região Metropolitana de Porto Alegre. Esta situação é mais nítida em Belo Horizonte, onde 45,7% delas permaneciam residindo com as famílias de origem.

Como observado para as assalariadas dos demais setores de atividade, a maioria das comerciárias se encontrava em famílias mais tradicionais, compostas por casal e filhos. Esta concentração é mais acentuada na Região Metropolitana de Belo Horizonte (46,1%) e menor na de Fortaleza (36,4%).
Por outro lado, destacam-se a proporção de comerciárias inseridas em arranjos domiciliares cuja organização não se restringia as relações primárias de parentesco, por não residirem exclusivamente com pais, cônjuges ou filhos. É nesta última modalidade que se inseriam mais de um terço das mulheres empregadas no comércio na área metropolitana de Fortaleza (33,8%).

Comerciárias e mães - Responsabilidades ampliadas pelos filhos

Independentemente do arranjo familiar, a grande maioria das comerciárias é mãe. Entre as áreas pesquisadas, a maternidade era mais comum no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte e São Paulo, onde, respectivamente, 72,3%, 69,0% e 66,8% dessas trabalhadoras relataram ter filhos.
Em geral, as comerciárias mães não possuem mais do que dois filhos e a maioria tem apenas um (33,4%, em Fortaleza, a 39,3%, em Recife e Salvador).

Em relação à idade dos filhos mais novos, duas faixas se sobressaíram e com dimensões muito próximas: a com filhos com menos de 6 anos, variando entre 33,7%, em Belo Horizonte a 44,1%, no Distrito Federal; e as com filhos de 6 a 14 anos, que representavam 37,6% em Salvador e 41,7% em Recife.

Destaques para uma agenda de transformações

A expressiva presença feminina no mercado de trabalho impulsionada, entre outros motivos, pela necessidade de compor a renda familiar e busca da independência profissional e financeira, coloca a necessidade de se discutir mais profundamente o papel da mulher e do homem na família e na sociedade. O ponto crucial desta discussão está no tempo que homens e mulheres dedicam ao desenvolvimento das atividades domésticas e profissionais.
Estas questões estão no dia a dia de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, limitando o desenvolvimento da sociedade, e, por isso, crescentemente passam a integrar a agenda do movimento sindical.
No caso dos trabalhadores do comércio, a reflexão sobre a realidade feminina é ainda mais urgente, pois conforme foi apontado neste estudo:

Na maior parte das regiões analisadas, o comércio se revela grande contratador de mulheres;
A comerciária pratica jornadas de trabalho inferiores à dos homens, embora ambos trabalhem excessivamente, ultrapassando a jornada legal (44h);
Quando comparado o rendimento/hora de homens e mulheres no comércio, a mulher, em quatro das seis regiões pesquisadas, ganha menos do que os homens. A equiparação dos salários ocorre apenas em
regiões onde os rendimentos são muito baixos, como Recife ou Fortaleza.

Mulheres com idade entre 25 e 39 anos constituíam o maior grupo etário entre as assalariadas do comércio.
Um terço das comerciárias tinha idade entre 16 e 24 anos;
 A maternidade é importante entre as comerciárias, pois mais de 60,0% das mulheres têm filhos e, na maior parte dos casos, as crianças têm idade inferior a 14 anos.

No plano geral, visando assegurar a igualdade de oportunidades e de tratamento para trabalhadores e trabalhadoras, foram formuladas as Convenções 100 e 111 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), das quais o Brasil é signatário. Estas normas internacionais, entretanto, não asseguram expressamente a eliminação das distinções com base nas responsabilidades familiares. Para isso, outra Convenção da OIT, a 156, versa sobre trabalhadores com responsabilidades familiares, completando o rol de instrumentos jurídicos internacionais cujo objetivo é eliminar a discriminação, na medida em que protege o membro da família que ocupa ou deseja ocupar um posto de trabalho e que se vê impedido (a) ou limitado (a) devido a conflitos entre responsabilidades profissionais e familiares. O Brasil ainda não ratificou a Convenção 156, mas esse pode ser um passo importante para a conquista da equidade de oportunidades entre trabalhadores e trabalhadoras no sentido de estabelecer a divisão de responsabilidades familiares.

No plano sindical, a negociação coletiva tem sido um importante instrumento na busca de equidade de gênero e garantias ao trabalho da mulher. Estudo recente (Negociação Coletiva de Trabalho e Equidade de Gênero e Raça no Brasil) do DIEESE, realizado em conjunto com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) aponta a crescente presença de cláusulas relativas ao trabalho de mulheres e à igualdade de gênero no processo de negociação coletiva. A pesquisa revelou importantes avanços por meio de acordos e convenções coletivas, em especial, em aspectos relativos às licenças maternidade e paternidade, bem como em questões ligadas ao cuidado infantil e à reafirmação dos princípios de não discriminação e de remuneração igual para trabalhos iguais.
Para mais detalhes,  clique aqui  www.dieese.org.br

A garantia de igualdade de oportunidades e tratamento no trabalho para as mulheres requer transformações nos papéis tradicionais de gênero e um fortalecimento da idéia de que os cuidados com a vida familiar e doméstica são uma responsabilidade social e não apenas feminina. Para isso são fundamentais ações de equilíbrio entre trabalho, família e vida pessoal que envolvam não só homens e mulheres, mas também outros atores, como o Estado. Fonte: Dieese


Por:
Ruth,
Coordenação de mulheres da CUT/Ce.
Coordenação Regional de Mulheres da CONTRACS/CUT
88391303.












FORMAÇÃO SINDICAL - ANARQUISMO

ANARQUISMO  
Diferente da concepção tradeunionista, que surge e ganha fôlego nos países mais desenvolvidos, a corrente anarquista terá maior destaque nas nações em que o processo de industrialização foi mais lento. O atraso dessas economias dará impulso à concepção anarquista, que expressa a revolta dos antigos artesão e oficiais. Estes, com o avanço da industrialização, foram despojados de seus instrumentos de trabalho  e tiveram que ingressar no trabalho fabril, proletarizando-se. Nos países mais atrasados, como a França, a Itália e a Espanha do final do século passado, as burguesias locais não possuíam capital acumulado o suficiente para uma rápida expansão. As indústrias eram frágeis, dispersas. Para acumular capital e impulsionar a industrialização, a burguesia se utilizava de mecanismos mais bárbaros de exploração - o que gerava, como conseqüência, violentas explosões de revoltas dos operários , que trabalhavam em fábricas dispersas e pequenas, sem qualquer concentração. Essas condições econômicas criaram um terreno fértil para o crescimento da concepção anarquista.

A palavra anarquia tem sua origem do vocabulário grego - an significa negação, ausência, e arquia, poder, governo. O anarquismo preconizava a abolição total do estado, com o fim das leis, dos partidos, da religião, etc. “O poder exerce, por sua própria natureza, uma influência perniciosa”, afirmou o inglês Willian Godwin (1756-1836), um dos primeiros formuladores dessa doutrina social.

Pierre Joseph Proughon (1809-1865) foi o grande ideólogo e divulgador dessa doutrina. Em sua clássica definição do capitalismo, afirma que “a propriedade é um roubo”. Defende uma nova  sociedade, autogestionária, formada por produtores livre da cidade e do campo. Estes se reuniriam em cooperativas e comunas e faziam a gestão da economia de forma autárquica. Apesar de aparente radicalidade de sua proposta, Proudhon adotará uma estratégia reacionária para atingi-la. Diz que a sociedade autogestionária será alcançada através da ajuda da própria burguesia, que, via “bancos populares” e o crédito gratuito, financiaria as iniciativas dos trabalhadores com vistas a se tornarem produtores livres.

Proudhon será radicalmente contra as greves e ficará criticando às jovens organizações sindicais de trabalhadores. Na sua obra mais conhecida, “Filosofia da Miséria”, será enfático: “A greve dos operários é ilegal, e não só o Código Penal que o diz: é o sistema econômico, é a necessidade da ordem estabelecida... Que cada operário, individualmente, goze da livre disposição da sua pessoa e dos seus braços, é a coisa que se pode tolerar. Mas que os operários procurem, por meio de associações, violentar a liberdade e o direito dos patrões, é o que a sociedade não pode permitir. Aplicar a força contra os patrões, desorganizar as oficinas, paralisar o trabalho, pôr sob ameaça o capital, significa conspirar uma ruína geral. As autoridades que mandam assassinar os grevistas de River-de-Giex sentiram-se profundamente infelizes. mas atuaram como o antigo Brutus, que se viu obrigado a escolher entre o amor ao pai e o dever ao cônsul. Impunha-se sacrificar os seus filhos, para salvar a república.

Em outro texto, dá sua opinião sobre os sindicatos. “A lei que autoriza associações é fundamental antijurídica, antieconômica e contrária a todo o regime social e a toda ordem... Repudio, em especial, a nova lei, porque a associação, com o propósito de aumentar  ou diminuir os salários, é absolutamente igual à associação com o propósito de aumentar ou diminuir os preços dos víveres e da mercadorias”, Para se contrapor às idéias de Proudhon, que “seduziam e corrompiam a juventude dourada e depois os operários, principalmente de Paris”, Karl Marx, ideólogo do Comunismo, escreverá  o livro “Miséria da Filosofia”.

O russo Michael Bakunin (1814-1876), de origem aristocrática, é quem dará um novo impulso ao anarquismo. Dizendo-se discípulo de Proudhon, negará a sua formula reacionária e utópica para atingir a sociedade autogestionária. Ele se dá conta das aberrações produzidas por seu mestre. “Proudhon, apesar de todos os esforços para se colocar no plano da realidade, continuou sendo idealista e metafísico”, raciocina. Afirmando total descrença diante da burguesia, defenderá uma postura de combate dos trabalhadores contra o capital. Essa concepção passa a ser conhecida como anarco-sindicalista. Ela prega a intensificação da luta de classes contra o capital. Para Bakunin, “a greve é tudo” e os sindicatos “são os únicos instrumentos de guerra verdadeiramente eficaz”. Ele também prega o uso da sabotagem, do boicote e da ocupação das fábricas como formas de luta dos trabalhadores. o ponto alto desse combate global seria a greve geral, que inviabilizaria o sistema e possibilitaria o surgimento da sociedade acrata. As entidades sindicais inclusive seriam os embriões da nova sociedade autogestionária.
Com as idéias de Bakunin, o anarquismo ganha base no meio operário. Em países de economia frágil, onde impera a super-exploração da mão de obra, a sua proposta de radicalização das lutas encontra ressonância. Para essa concepção, o importante é a chamada “ação direta” - o desenvolvimento ininterrupto dos confrontos de classe. Nesse processo, os anarquistas têm noção de que encontrarão barreiras diante do atraso da consciência operária e das dificuldades da correlação de forças. procurando superá-las, eles defendem o papel da “minoria ativa”, como foco que galvanizaria as atenções dos trabalhadores, atraindo-os para a luta. Daí o anarquismo ser taxado de vanguardista, por se afastar do nível de organização dos trabalhadores, pregando uma radicalização artificial da luta de classes. No mesmo sentido, rotula-se essa concepção de voluntarista. já que coloca a sua vontade subjetiva acima das condições concretas de luta existente, sem analisar a correlação de forças.
Outra característica fundamental da concepção anarquista será a negação de qualquer ação política por parte dos trabalhadores Partindo da compreensão de que toda a superação emana da infra-estrutura capitalista, os anarquistas condenam a participação dos operários nas eleições institucionais, são contrários a atividade parlamentar e menosprezam as leis. Pelo seu projeto de sociedade futura, essa concepção prega o fim do Estado - com todas as instituições e regras, como as leis e a justiça. Exatamente por isso, os anarquistas - tendo a frente Proudhon e, posteriormente Bakunin - polemizarão com os marxistas - que defendem a luta do proletariado pela conquista do poder, com a constituição da ditadura do proletariado como forma transitória para o fim do estado. Para os anarquistas, nada deve se colocar no caminho da “ação direta”, do confronto cotidiano. Esse traço dará aos anarquistas uma certa marca economicista.
Com o desenvolvimento do capitalismo, que leva a uma maior concentrações de capital e da produção, a concepção anarquista vai perdendo terreno nos movimentos sociais. Além do aspecto econômico, da superação da fase artesanal e manufatureira, há também o político. A complexidade da nova sociedade desarma os anarquistas. Algumas correntes chegam inclusive a defender o lupen-proletariado ( os mendigos e marginalizados) como a nova classe revolucionária, já que, segundo afirmam, o proletariado industrial teria se tornando reacionário com os avanços da industrialização. Ao negarem a luta política e a utilização de outras formas de luta pelos trabalhadores, os anarquistas caem no isolamento. Com a primeira revolução proletária, na Rússia de 17, onde se afirmam a necessidade da luta política e da organização do partido revolucionário, o anarquismo declina no mundo. As inúmeras tendências anarquistas, desde os adeptos do terrorismo, até os defensores do pacifismo, passando pelo chamado anarquismo espiritual de Spindel, entram em crise.





FORMAÇÃO SINDICAL - SINDICALISMO CRISTÃO

SINDICALISMO CRISTÃO  

À partir da encíclica Rerum Novarum (Das coisas novas), publicada pelo papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, a Igreja Católica adota oficialmente uma doutrina para a sua atuação no movimento social, principalmente no sindicalismo. Até esta data, essa instituição ainda preservava suas tradições elitistas e aristocráticas, próprias de período feudal. Durante o feudalismo, a Igreja possuía grande poder. Ela era a maior propriedade feudal da Europa, controlando cerca de 1/3 das terras agricultáveis. Exercia com exclusividade o poder religioso, sendo o poder espiritual do sistema em vigor. E era também o poder político. Os feudos, dispersos e constituindo-se como mini-Estados, dependiam da instituição religiosa para manter o controle político. A Igreja exercia esse poder, via seus tabus ideológicos, para preservar a “pureza da alma humana” e através da repressão - tão marcante no período da Inquisição.

A igreja resistiu violentamente ao fim do feudalismo. Segundo o sermão mais conhecido na Europa no século XVI, “Deus fez clérigos, mas os demônios fez a burguesia”. O capitalismo, entretanto, vigora, destruindo as bases feudais - ou via revoluções ou através de negociações por cima. A Igreja perde poder, tanto econômico, como político. Além disso, perde a exclusividade religiosa, em decorrência dos inúmeros cismas e o surgimento do protestantismo. Mesmo suas bases ideológicas são questionadas, num primeiro momento pelos “iluministas” e “racionalistas”. No caso da revolução francesa, a mais radical das revoluções burguesas, muitos membros da hierarquia católica são guilhotinadas. Posteriormente, entretanto, a própria burguesia dá espaço para a refundação da Igreja. Depende dela também para controlar o jovem proletariado. A Igreja se adapta ao novo sistema social, apesar de num primeiro momento manter suas tradições aristocráticas.
Esse conservadorismo não vai mais corresponder a mentalidade emanada dos novo sistema. As relações capitalistas de produção enfraquecem os preconceitos religiosos. O proletariado, diferente do servo camponês, é um homem “livre”. Surgem os primeiros conflitos de classe, o luddismo, as greves, e também as novas formas de organização dos explorados - os sindicatos e as cooperativas. Parcelas da jovem classe operária se aproximam das idéias anarquistas e marxistas. A Igreja perde base social. A religiosidade popular não garante mais a sustentação da instituição católica. Daí o surgimento da Rerum Novarum, que é um marco na viagem da Igreja católica com vista aos movimentos sociais.

De acordo com essa encíclica papal, existe no capitalismo “uma desigualdade natural, necessária e conveniente para o homem”. Os exageros de injustiças devem ser reformados, procurando encontrar-se função social” do capital, para torná-lo um sistema “justo e eqüitativo”. Entre capital e trabalho não deve haver antagonismos, luta de classes obedecendo-se os princípios da “caridade cristã”. A Confederação Internacional dos Sindicatos Cristãos, central sindical fundada no Congresso de Haia, em 1920, chega a afirmar que “a vida econômica e social implica a colaboração de todos os filhos de um mesmo povo. Rejeita, portanto, a violência e a luta de classes”.

A Renum Novarum vai criticar tanto o socialismo como o liberalismo. O para qualifica o pensamento socialista como falso, porque prega a supressão da prioridade privada - “que é um direito natural dos homens”. Além disso, Leão XIII considera as idéias socialistas subversivas, “porque gera ódios e extingue nos homens o estímulo ao trabalho”. Para a Renun Novarum, “o capital e o trabalho devem viver em colaboração um com outro, obedecendo aos princípios da caridade cristã”. Ela confia a sorte  dos trabalhadores à ação do Estado, que deve estabelecer leis para proteção e promoção do ser humano. A encíclica propunha a criação dos sindicatos aos moldes das antigas corporações de artesãos e também estimulava a formação de associações mutualistas.
Com base nessa doutrina, os militantes católicos atuaram no sindicalismo com uma concepção reformista, de conciliação de classes. Eles rejeitaram energicamente as greves e outras formas de confronto. Defenderam o papel assistencialista dos sindicatos. Para realizar as reformas graduais no capitalismo, afirmam que o terreno propício é a própria Igreja - já que ela reúne patrões e empregados, “filhos de um mesmo Deus”. O fundamental é a paz social, a harmonia entre as classes, tendo como mediadora a Igreja - que dessa forma tenta readquirir o seu poder político.
Outras duas características fundamentais do sindicalismo cristão são o anticomunismo e a defesa do pluralismo sindical. Muitos historiadores, inclusive católicos, afirmam que a Igreja só passou a se preocupar com o movimento sindical como forma de se contrapor ao aumento da influência das idéias revolucionárias. “Ela nasceu sobretudo para enfrentar o avanço do socialismo, particularmente a revolução social do marxismo”, explica José Cândido Filho, autor do livro “O movimento operário: o sindicato e o partido”. Miguel Gonzáles Núniz acredita que uma das causas do fraco desenvolvimento da corrente cristã é que ela não atuará nos sindicatos como organismos de luta por conquistas materiais, mas para “proteger os trabalhadores católicos contra os perigos socialistas”. Outra razão, segundo o autor, é que “o sindicalismo cristão aparece tardiamente (43 anos depois do Manifesto Comunista de Marx e Engels), quando as massas proletária, desiludidas também no plano espiritual (desconfiança da irmandade capitalismo-poder-igreja), haviam abandonado as Igrejas, católicas ou protestantes, ou melhor, tinham sido abandonadas por estas”. Os estatutos dos Círculos Operários Católicos no Brasil são bem elucidativos. Um dos primeiros itens de seu objetivo era o “combate ao comunismo”.
Quanto ao pluralismo sindical, a Igreja advoga a separação dos católicos dos que professam confissões e idéias diferentes. O seu temor é o contágio dos fiéis com as novas idéias. Essa tese, que leva à fragmentação da organização sindical, foi levada à prática em várias países, principalmente na Europa. No Brasil, a Igreja fez inúmeras tentativas para implantar o plurisindicalisno. Desde o início da atuação organizada dos católicos  no sindicalismo brasileiro, tendo a frete o cardeal Sebastião Leme, a Igreja organizou os círculos operários, que atuavam por fora dos sindicatos existentes. Na Constituinte de 34, os deputados vinculados à Igreja defenderam, juntamente com a reação, a implantação do pluralismo sindical - que inclusive é aprovado. Em pleno Estado Novo, a hierarquia católica apresenta ao ditador Getúlio Vargas a proposta de transformar os aproximadamente 400 círculos operários católicos existentes em sindicatos paralelos. E na Constituinte de 45, mais uma vez, os deputados eleitos com o apoio do LEC (Liga Eleitoral Católica), defendem, juntamente com os parlamentares da UDN, a implantação do plurisindicalismo.










FORMAÇÃO SINDICAL SOCIAL DEMOCRACIA

SOCIAL - DEMOCRACIA

A corrente conhecida hoje como social democracia surgiu no interior do movimento marxista, no final do século passado. Seu primeiro formulador foi Eduard Bernstein (1850-1932), testamenteiro de Engels e um dos mais importantes teóricos da II Internacional. Aos poucos, suas idéias vão contagiar outros dirigentes da internacional, resultando numa mudança  de rumo dessa organização inicialmente marxista. Bernstein colocará em dúvida as principais teses marxistas, como a da polarização entre a burguesia e proletariado, a tendência a pauperização das massas, a questão das crises cíclicas do capitalismo e a necessidade da luta revolucionária para superar esse sistema. Conforme assume, ele fará a revisão do marxismo. Daí porque essa corrente também é chamada nesse período, de revisionista.

As idéias de Bernstein refletiam mudanças objetivas que ocorreu na Alemanha do final do século. Esses países passa por um intenso processo de industrialização após a sua unificação dirigida por Bismark. Isso possibilita maior estabilidade econômica e uma certa calmaria no combativo movimento operário do país. Outra conseqüência é o reforço da democracia burguesa, com a legalidade do partido social-democrata alemão e sua grande  acessão. Em pouco tempo, esse partido, que era o mais conceituado no movimento marxista, elege cerca de 120 deputados. Com base nessas transformações objetivas,  Bernstein vai negar a tese marxista que afirma a inevitabilidade do processo de concentração e acumulação do capital - e o conseqüente empobrecimento das massas, Dirá que através de ações, os operários tem condições de também tornarem-se proprietários - diminuindo a polarização. Ele também afirmará que o caminho para os avanços mais significativos dos trabalhadores passou a ser a atividade institucional, a via parlamentar, negando a necessidade da ruptura revolucionária pregada por Marx. Outra tese de Bernstein, depois aparentemente reforçada com os estudos do economista Hilferding, é que a formação dos monopólios, o início da fase imperialista, impediria que ocorresse, as crises cíclicas do sistema previstas por Marx.

Thomas Meyer, no livro “Socialismo Democrático”, apresenta um quadro mais completo da evolução do pensamento da social-democracia. Conforme explica, Ferdinand Lassale, o primeiro presidente do partido socialista alemão e fundador, em 1863, da Associação Geral dos Trabalhadores Alemães, foi quem deu inicio a revisão das teses marxistas. Ele pregava a “democratização do Estado” burguês. Segundo ele, o “socialismo transfere para o Estado democrático uma total responsabilidade social. O Estado deve garantir não somente a propriedade e a ordem, mas deve também assegurar a liberdade de todos através da estrutura social e instituir uma ordem econômica  e socialmente justa”. Diferente a tese marxista, que afirma que o estado é tão somente um instrumento nas mãos da classe economicamente dominante, Lassale o via como instrumento neutro, capaz de ser controlado socialmente. Ele rejeita a tese do “assalto ao poder”.

Conforme explica o autor, durante muitos anos a social-democracia alemã esteve baseada nas idéias marxistas - principalmente no período autoritário do Estado Imperial (1878-1890). “A opressão do partido pelo Estado favoreceu a radicalização do seu pensamento”, afirma Meyer. Segundo informa, até pouco antes da I Guerra Mundial “predominava na social-democracia alemã a concepção da derrubada revolucionária do capitalismo”. Já existiam idéias revisionista, que se encontravam na luta no interior da I Internacional. Estas eram fundamentadas por Eduard Bernstein, que a partir de 1896, expôs suas teses no interior do partido alemão.
Segundo ele, o desenvolvimento capitalista indicava rumos diferentes daqueles prognosticados por Marx A estrutura social não demonstraria uma tendência a polarização, a simplificação. Ao contrário, torrnaría-se mais complexa. Ao mesmo tempo em que  se dava a concentração de capital, também crescia o número de pequenas e médias empresas. Isso permitiria a manutenção de uma vasta classe média autônoma. essa também seria incrementada com o aumento das tarefas administrativas do setor público.
O aumento das sociedades anônimas também possibilitaria maior acesso dos trabalhadores à participação nos rendimentos
Outra tese de Bernstein é a de que a monopolização da economia leva a superação das crises cíclicas do capitalismo, ou pelo menos, ao seu agravamento. Bernstein também prevê uma “regulamentação nos modelos de acordos” entre sindicatos e empresários, fruto da democratização do Estado e da melhoria da legislação trabalhista. Disto tudo, Bernstein concluiu que o socialismo é uma tarefa em construção, ele deve evoluir normalmente no interior do capitalismo. Daí batizar essa concepção de evolucionista.

Conforme explica Meyer, nos primeiro anos  de seu aparecimento, o revisionismo de Bernstein  “foi repelido pela grande maioria da social-democracia alemã. Nisso teve influência o fato da que o espaço reformista efetivo era estreitamente limitado no Império pré-democrático e que a social-democracia estava isolada”.  Com o tempo suas teses emplacaram.  “Com a adoção do programa de Godesberg do SPD, em 1959, os elementos sustentadores dos revisionistas tornaram-se fundamentos teóricos dos socialismo democrático moderno.
Segundo Bernstein, a democracia é fim  e meio ao mesmo tempo; A violência elementar que se manifesta nas revoluções políticas pode mudar cada vez menos a essência do corpo social. Podem não criar nada duradouro”; “O socialismo pode estar mais visível em uma boa legislação febril do que na socialização de um grupo inteiro de fábricas”.
Outros teóricos importantes da social-democracia foram ; Rudolf Hilferding (1877-1941), que desenvolveu a teoria do “capitalismo organizado” e foi ministro das finanças da república Weimar; Friedrich Ebert (1875-1925), presidente do SPD deste 1913 e primeiro presidente da república de Weimar, de 1919 à 1925; Friedrich Adler (1879-1960), austríaco, presidente da IS. O programa de Godesberg, conforme foi dito, representa a vitória definitiva da visão reformista. Quanto as questões econômicas, ele afirma:  O  Partido Social-democrata aprova o livre mercado, onde impere a concorrência. Mas ali, onde o mercado seja a expressão do predomínio de indivíduos ou de grupos, impõem-se múltiplas medidas para assegurar a liberdade ma economia. Concorrência tanto quanto possível, planificação tanto quanto necessária”. Num outro documento base, o quadro de orientação 85, afirma-se:  “A propriedade privada sobre os meios de produção e a concorrência do mercado são indispensáveis. Ao mesmo tempo, necessita-se de instrumentos adequados para o governo exercer influência, fomento, planificação e controle do processo econômico a fim de alcançar os objetivos da política econômica social-democrata”.


CONCEPÇÕES PRESENTES HISTORICAMENTE NO MOVIMENTO SINDICAL.

CONCEPÇÕES PRESENTES HISTORICAMENTE NO MOVIMENTO SINDICAL.


CONCEPÇÕES SINDICAIS

A luta entre concepções no interior do sindicalismo não é nova. Desde o surgimento dos sindicatos, que ela se manifesta - ora com mais ora com menos intensidade, dependendo de vários fatores. Alguns a encaram como algo extremamente negativo, que atrapalha a unidade dos trabalhadores - já que as várias correntes se degladiam numa luta intestina. No nosso estender, essa disputa não é nem positiva nem negativa. Ela é natural. Faz parte da própria natureza dos sindicatos, que procuram representar o conjunto dos trabalhadores.

Pode-se dizer que o sindicato é o campo fértil de idéias e de luta entre as várias propostas existentes em seu meio. Querer impedir essa disputa de concepções, de forma artificial, fere a própria essência do sindicato e representa a sua negação, resultando num tipo de partidarização. Mesmo para combater o tendencismo, que seria o extremo negativo da disputa natural de correntes, é necessário democratizar as discussões no interior dos sindicatos. Só dessa maneira se contribui para a educação da classe, que, na polêmica, vai se posicionar sobre as propostas que mais lhe interessam. A luta pela hegemonia, que esta presente em toda a vida social, manifesta-se com força nos sindicatos e não se pode temê-la ou nega-la.
  1. TRADEUNIONISMO
Uma das primeiras concepções a ganhar destaque no meio sindical foi a tradeunionista. O próprio nome indica que ela surgiu no interior das trade unions da Inglaterra - e isso no final do século passado. Fatores de ordem econômica e política explicam o florescimento dessa corrente sindical. Num primeiro momento, as trade unions se caracterizaram pela combatividade e heroísmo de seus integrantes - que atuaram na clandestinidade, sofreram, violentas perseguições a dirigiram as primeiras greves do novo sistema social. Através de memoráveis lutas, ganharam respaldo e conquistaram a legalidade.

Entretanto, a Inglaterra, como “berço do capitalismo”, passou por intenso desenvolvimento econômico. Enquanto no restante dos países ainda imperava o modo de produção feudal, baseado no atraso do campo, a burguesia inglesa já passava pelo progresso gigantesco da revolução industrial. Acumulando capital, essa nova classe passa a interferir no mundo. Inicia-se a fase caracterizada por Lênin como o imperialismo, no estágio superior do capitalismo. A burguesia inglesa internacionaliza o seu capital, em busca de inúmeras vantagens.

Nos países atrasados, os grupos industriais da Inglaterra podiam contar com uma mão de obra barata, desorganizada. Na matriz, as trade unions já questionavam  a exploração capitalista. Nesses países coloniais, também havia a vantagem da fartura de matéria-prima e a própria existência de um mercado de consumo ainda virgem. Na Inglaterra, a disputa por fontes de matéria-prima e a concorrência na venda das mercadorias aumentam as dificuldades dos empresários. Além disso, nos países atrasados era mais fácil dirigir os governos, que serviriam como testas-de-ferro para implantar políticas de interesse do capital inglês - via subsídios, construção da infra-estrutura necessária, etc.

Por último e o que mais importa na discussão sobre a origem do tradeunionismo - a exploração dos países coloniais permitia à burguesia inglesa obter altas taxas de mais-valia. Esse recuso extra vai possibilitar uma certa distribuição dos lucros para parcelas do operariado inglês. Desta forma, a burguesia da Inglaterra podia amenizar os conflitos na matriz, deslocando-os para as suas novas colônias. Essa distribuição de “migalhas”, obtidas em decorrência da super-exploração nos países atrasados, vai resultar no surgimento de uma parcela de trabalhadores com maior poder aquisitivo na Inglaterra - que Engels chamara de “aristocracia operária”.

Essa parcela “aburguesada” de trabalhadores é que vai ser responsável pela mudança de comportamento do sindicalismo inglês. Aos poucos, nasce e se consolida uma nova concepção sindical - o tradeunionismo, que é uma corrente típica dos países mais avançados do capitalismo. Nos setores de ponta da economia, que mais preocupavam e que foram beneficiados pela burguesia, começaram a se manifestar opiniões em defesa do próprio sistema capitalista. Nas mesmas bases sindicais, que tiveram papel de relevo nas primeiras lutas contra a exploração, surgem lideranças que justificam  o saque das nações dependentes.

O pragmatismo é uma das principais características dessa concepção sindical. Com o objetivo de manter as “migalhas”, o tradeunionismo nega a luta de classes, deixa de questionar a própria lógica exploradora do capital. Para ele, o que importa é o crescimento do capitalismo, sua difusão pelo mundo enquanto sistema imperialista. Para garantir esse avanço, essa tendência procura suavizar os conflitos. Ela prega abertamente a conciliação de classes. Seu interesse é unicamente pela conquista de pequenas melhorias imediatas. Daí sua pregação economicista, que rejeita qualquer confronto político com o sistema em vigor.

Em decorrência dessa concepção, o tradeunionismo se contrapõe às greves, procurando evitá-las. A central sindical inglesa, a TUC ( Trade Unions Congress), hegemonizada por essa corrente, vai inclusive condenar inúmeras paralisações de trabalhadores, colocando-se ao lado do patronato. Para obter pequenas vantagens econômicas, as trade unions vão priorizar as negociações, em detrimento da pressão organizada das bases sindicais.  Isso resulta numa prática cupulista, que afasta as entidades sindicais das massas assalariadas. Além disso, essa concepção vai utilizar como tática o lobby político, pressionando os parlamentares - sem distinção de ideologias e partidos. As trade unions vão se contrapor a formação de um partido revolucionário, que lute contra o sistema capitalista. Com o tempo tornam-se apêndice de um partido de concepção burguesa - o Labor Party (Partido Trabalhista). Os sindicalizados são automaticamente contabilizados como filiados dessa agremiação partidária.

É preciso ter claro que a parcela aburguesada, a “aristocracia operária” era minoritária mesmo na Inglaterra. Apenas alguns segmentos, principalmente dos fatores de ponta da economia, são contemplados pelo saque imperialista. No restante, persistem as péssimas condições de trabalho e salário. Para esses, as trade unions adotam uma postura de discriminação. Cada vez mais, o sindicalismo inglês passa a representar apenas os setores aburguesados. Há uma forte tendência ao corporativismo, com os sindicatos encaminhando as reivindicações puramente profissionais dos trabalhadores dos setores mais dinâmicos da economia - em especial dos operários especializados. O sindicalismo tradeunionista inclusive se procura apenas com os sindicalizados, deixando o restante na marginalização. Os interesses da minoria organizada vão se contrapor aos do conjunto da classe. Predomina a defesa mesquinha dos interesses de algumas categorias de ponta, o que é resultado de uma maior divisão da classe.

Sob direção da corrente tradeunionista, o sindicalismo inglês - e posteriormente o movimento sindical de outros países imperialistas - adotam em vários momentos da história uma postura nacional-chauvinista. Defende os interesses da burguesia local, a exploração dos trabalhadores dos países dependentes. Essa característica ficará mais nítida nos períodos de guerras - em especial nas duas grandes guerras mundiais. Essa proximidade de concepção entre o patronato e os sindicalistas tradeunionistas terá como conseqüência um maior vínculo, inclusive orgânica, entre o capital e trabalho. Em vários países onde essa concepção ganhou hegemonia, os sindicatos passaram a ter negócios empresariais, tornando-se ricas instituições. Deu-se inicio ao chamado “bussiness union”-sindicalismo de negócios. A central sindical americana vai comprar, logo no inicio desse século, terras na Flórida e ações de várias empresas, utilizando-se para isso das pensões dos assalariados por ela administradas.

Em síntese, pode-se afirmar que as principais características da corrente tradeunionista são as seguintes: defesa do sistema capitalista, pragmatismo, economicismo, negação da luta de classes, corporativismo e cupulismo. Em decorrência desse comportamento, o sindicalismo hegemonizado por essa tendência terá sua história manchada por vários acontecimentos negativos. Evidente, que no decorrer da sua trajetória, ocorrerão situações diferenciadas - fruto de acontecimentos políticos  e econômicos marcantes. No processo da II Guerra Mundial, por exemplo, a TUC inglesa e parte do sindicalismo norte-americano, tendo a frete a CIO (Congress Industrial Organization), defendem a constituição de uma frete anti-nazista - refletindo a própria postura de seus países na constituição das forças aliadas.

No entanto, o que se observa no geral é a manutenção da mesma concepção - o que resulta em várias iniciativas contrárias aos interesses dos trabalhadores. As conseqüências da prática tradeunionista ficam mais nítidas no estudo  do sindicalismo do EUA, a principal potência imperialista  desses século. Antes do desenvolvimento industrial desse país, o sindicalismo americano se caracteriza por uma prática de combate ao capital. Em 1866 é fundada a União Nacional do Trabalho (National Labour Union), organizada por G. Sylvis, que dirigirá importantes greves e pedirá filiação a AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores). Muitos dos fundadores dos sindicatos americanos nessa época são assassinados e perseguidos pela polícia e pelas milícias privadas dos patrões - como o conhecido bando “pinkerton”. Nesse sentir inclusive na federação Americana do Trabalho - a famosa AFL (American Federation of Labour), fundada em 1886.

Ocorre que os EUA vão passar por um intenso processo de desenvolvimento capitalista. Já no final do século passado, põe um intenso processo de disputa a hegemonia econômica com a Inglaterra e outras potências. Aos poucos, os EUA se transformam também numa potência imperialista - investindo contra a soberania das nações mais frágeis. Primeiro, conquistaram as antigas colônias espanholas na América Central. Depois, tendo acumulado capital o suficiente, passam a dominar nações do próprio continente e de outras partes do mundo.

A conseqüência desse crescimento, do ponto de vista do sindicalismo americano, é a constituição também de uma aristocracia operária nos EUA. Aos poucos, o movimento sindical abandona sua tradição de luta. A concepção tradeunionista derrota a anarquista, principalmente nos sindicatos representativos dos trabalhadores dos setores de ponta da economia. Samuel Gompers, fundador da AFL, ativamente das atividades da Associação Internacional dos Trabalhadores, a I Internacional, fundada por Marx e Engels. Ele inclusive se dizia um “marxista” e teve como conselheiro o militante de formação F.A. Sorge, correspondente de Karl Marx nos EUA. Com o processo de formação do império americano, muda radicalmente de concepção.

Gompers será ideólogo do tradeunionismo nos EUA. Para ele, os sindicatos não devem mais questionar o sistema. Pelo contrário, devem contribuir para o seu crescimento. “O papel dos sindicatos é de simples regulador da mercadoria trabalho”, afirma . Outro dirigente da central americana, Jonh Lewis, dará definição mais precisa da visão tradeunionista.O sindicato é parte integrante do sistema capitalista. Ele é um fenômeno capitalista tanto quanto a sociedade anônima. Um  reúne operários objetivando uma ação comum na produção e na venda; a outra agrupa capitalistas que tem a mesma finalidade. O objetivo econômico é o mesmo para ambos: o lucro”. Em seu pragmatismo, o movimento sindical americano apoiará a tomada do poder, em novembro de 1917.

O processo de burocratização do sindicalismo norte-americano é marcante. Os contratos coletivos de trabalho são celebrados pela cúpula da AFL-CIO, sem qualquer consulta a base. O número de sindicalizados não correspondente a 1/3 da mão de obra. As taxas de inscrição e a mensalidades do sócio são altas. Os dirigentes da AFL-CIO é que designam as direções das entidades intermediárias e locais. As assembléias são espaçadas - as vezes ocorrem anos entre uma e outra. A corrupção campeia na direção dos principais sindicatos nacionais e na AFL-CIO, Os cargos de direção são regiamente pagos. Há também notórias vinculações, até hoje, com a Máfia.

Com sua política imperialista, a AFL apoiou o envio de tropas quando do cerco contra os revolucionários russos, na guerra civil que se estendeu de 1918 a 1922. Ela também apoiou a invasão do Vietnã para “defender o bem estar dos trabalhadores americanos”. A resolução de “apoio incondicional” foi aprovada no congresso de San Francisco, em 1965. Nesse caso, chegou a orientar os sindicatos nacionais a tornarem suas sedes centro de alistamento militar. No último período, apoiou, discretamente, os contra da Nicarágua, condicionando esse apoio a mudanças na política social do governo Reagan, Em decorrência dessa identidade com a política imperialista do governo dos EUA, o departamento de relações internacionais da AFL-CIO coleciona denuncias sobre seus vícios com a CIA. Joy Lovestone, acusado de ser agente pago da agência de espionagem, foi durante quase três décadas o responsável por este departamento. A AFL-CIO também cria instrumentos para interferir na política de outros países, como o IADESIL - que é uma entidade tripartite, dirigida pela central sindical, o governo dos EUA e a entidade patronal Council of América.

A história do sindicalismo americano é marcada por dois momentos. Um primeiro, antes dos EUA se transformarem numa potência imperialista, que se caracteriza por uma ação combativa. Na jornada internacional de luta pela redução da jornada para oito horas diárias, em 1886, ele terá papel  de destaque. Cerca de 5 mil greves ocorreram nesse ano em torno dessa reivindicação  - inclusive a greve de Chicago, que deu origem ao 1º de maio.

Depois, a partir do final do século passado, o sindicalismo passa a ser hegemonizado pela corrente tradeunionista. Há disputa de posições. As correntes mais a esquerda, anarquistas e socialistas, fundam em 1905 a Industrial Workers of the Word (IWW), que às véspera da primeira guerra mundial congrega mais de 2 milhões de filiados. Essa entidade é dilacerada pela disputa entre anarquistas e comunistas e, em 1912, é dissolvida pelo governo.

Quando da quebra  da bolsa de 29, que significou profunda depressão econômica, trabalhadores formam sindicatos por ramos de produção - contrariando orientações da AFL, que defendia as entidades por profissões, apenas trabalhadores qualificados. Através de acordo com a Máfia, os burocratas sindicais garante certa estrutura financeira e o afastamento via gangsters, das lideranças mais combativas. Al Capone confessa, em seu julgamento, que a Máfia realiza contrabando via sindicatos e que possui um membro no comitê executivo da AFL. Fruto do acirramento da luta de classes nesse período de crise do capitalismo, surge em 38 a CIO - uma central de oposição à AFL e com posições mais combativas, sob liderança do líder mineiro John Lewis. Ela se estrutura por ramo de produção, opõem-se a discriminação racial e defende a participação política dos trabalhadores. Ela chega a ter mais de 5 milhões de aderentes. Durante a II Guerra, alia-se aos sindicatos soviéticos na luta contra o nazi-facismo. Já a AFL monta nos EUA os comitês em defesa de Hitler

O clima de guerra fria, as perseguições do governo no período do mercantilismo e as disputas internas da CIO vão enfraquece-la, a partir da década de 40. Ela se retira da FMS (Federação Sindicalista Mundial) e funda, juntamente com a AFL e os sindicatos dirigidos pela social-democracia, a CIOLS ( Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres) - em dezembro de 49, no congresso de Bruxelas. Em 55 é completada a fusão com a AFL.

Outro caso, é o Japão. A pós a II Guerra, o país fica sob intervenção dos EUA. O sindicalismo que era conhecido por sua prática combativa, com grande influência de revolucionários, é violentamente reprimido. E, 46/48 ocorrem os famosos “expurgos vermelhos”, quando cerca de 12 mil sindicalistas são presos  e afastados da vida sindical. Há também a introdução do pluralismo sindical, o que gerou uma fragmentação em mais de 78 mil sindicatos - muitos deles por empresas.

Em Israel, A Histradut é o segundo maior patrão do país, cabendo ao Estado o primeiro lugar. Ela emprega cerca de 250 mil assalariados. Sua holding, Hevrat Ovdim, possui cerca de 600 fábricas e estabelecimentos comerciais. Em 85 estas empresas foram responsáveis por 25% de produto interno bruto, por 2/3 dos bens manufaturados e por  85% da produção agrícola. O bando Hapoalin, o segundo maior do país, é da central sindical. Estas empresas exploram a mão de obra palestina, que é remunerada em cerca da metade do salário israelenses.

Já na Alemanha, a DGB dirige  a holding BDSG, que controla várias empresas e empregava, em , 82, mais de 40 mil assalariados. O BFG, segundo informações de 71, era o maior banco do país. E a Neue Heimat é a companhia  de construção urbanas da Europa.

Domingos Braga Mota

Facilitador.

FORMAÇÃO SINDICAL - A EVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES

A evolução das Sociedades
Quaisquer que sejam os fundamentos em que os cientistas sociais se baseiam, todos estão de acordo em que a sociedade sofreu um processo gradual de transformação ao longo do tempo. O tipo mais primitivo de organização social que se conhece é a ordem comunal ou tribal, em que os indivíduos viveram juntos para garantir a sobrevivência de todos.

Esses agrupamentos dedicavam-se à busca nômade de alimentos e instalavam-se de forma provisória em cavernas e acampamentos. À medida que se esgotavam as reservas naturais ou as condições climáticas assim o exigissem, mudavam-se para outros sítios mais favoráveis ao grupo. 
O domínio do fogo deflagrou uma verdadeira revolução tecnológica Permitiu o aperfeiçoamento dos utensílios e sua transformação em armas para a caça que, junto à extração de alimentos vegetais, era a fonte de alimentação. A domesticação de animais marcou uma etapa importante da evolução da sociedade primitiva: o momento da transição de um estado nômade para uma forma de vida sedentária, em locais geográficos permanentes. Surgiram as tribos, agrupamentos de indivíduos ligados por laços de parentesco. Mas a permanência em espaço circunscrito limitou o acesso às fontes alimentares, basicamente caça, pesca e coleta de frutos e raízes silvestres. A necessidade de ampliar os estoques alimentares levou à atividade agrícola e mais uma etapa foi alcançada com a conversão do pastoreio e da agricultura nas principais fontes de subsistência. Surgiram os primeiros proprietários da terra, dominadores da economia tribal.

A sociedade escravista surgiu quando a propriedade sobre os objetos e a terra ampliou-se para a posse de seres humanos, os prisioneiros de guerra. Seu fundamento econômico reside na possibilidade de cada indivíduo ser capaz de produzir mais do que o necessário para a própria sobrevivência, ou seja, um excedente, passível de ser apropriado por outrem. O processo de acumulação de riqueza acentuou-se e algumas famílias tornaram-se mais ricas com o uso da mão-de-obra escrava, barata e abundante. 
O modelo de sociedade baseado no trabalho escravo declinou em função da inexistência de estímulo para que o trabalhador escravizado executasse as funções mais complexas que progressivamente lhe foram sendo exigidas. O progresso das técnicas produtivas e a necessidade de maior produtividade impuseram uma revolução nas relações de produção: o trabalho livre, com retribuição de certa forma proporcional ao esforço despendido, que se implantou com o sistema feudal. Com uma hierarquia rígida, o feudalismo fundava-se basicamente na existência de três classes: a nobreza e o clero, que formavam a classe dominante, no topo da pirâmide social; um segmento intermediário formado por artesãos e comerciantes; e, na base, os servos que eram, em sua maioria, descendentes dos antigos escravos ou camponeses arruinados. A posição dentro da hierarquia social era determinada pelos costumes e leis, que davam à classe dominante enormes privilégios políticos, econômicos e sociais. 
Cultura
Ao longo do processo de mudanças econômicas e sociais dos agrupamentos sociais, surgiram e desenvolveram-se, ao mesmo tempo, as formas de comportamento e as ideologias que se traduzem nas manifestações culturais do grupo social. A cultura condicionou todas as atividades dos indivíduos e do grupo social -- habitação, hábitos de convivência, papéis sociais, relações dos indivíduos entre si, dos indivíduos com os diferentes grupos, dos grupos entre si e com o conjunto social, ritos religiosos, alimentação, trabalho, legislação e outras áreas. Essas mesmas atividades exerceram sobre a cultura uma ação recíproca. Surgiram as artes, a linguagem, os costumes, as leis, as religiões, as concepções filosóficas e ideológicas, em resumo, tudo o que integra uma cultura e identifica uma sociedade. 
Características da sociedade tecnológica moderna
Na sociedade tecnológica, o ser humano não vive mais num meio natural e sim num meio técnico, que interpõe entre o homem e a natureza uma rede de máquinas e técnicas apuradas. O homem explora a natureza, domina-a e utiliza-a para seus fins. Em decorrência da expansão dos recursos técnicos, a estrutura da sociedade tecnológica resulta muito mais complexa do que a da sociedade tradicional. Quatro fatores contribuíram para essa mudança social tão profunda: a tecnologia, um avançado sistema monetário e creditício, a crescente divisão do trabalho e a migração em massa da mão-de-obra do setor primário de produção (agricultura, caça, pesca e mineração) para os setores secundário (indústria) e terciário (comércio, transportes, profissões liberais etc).
Em conseqüência da ruptura entre as funções de produtor e consumidor, desempenhadas no passado pelos mesmos indivíduos, e da multiplicação artificial das necessidades de consumo (e por isso esse tipo de sociedade também é denominado "sociedade de consumo"), a organização social desdobrou os papéis sociais atribuídos a uma mesma pessoa. Um indivíduo é ao mesmo tempo pai de família, empregado de uma fábrica e membro de um clube, de um partido político, de um sindicato, de uma igreja etc. Por conseguinte, os riscos de conflito entre os papéis são muito maiores do que na sociedade tradicional.

As sociedades modernas apresentam uma extrema divisão de trabalho

As profissões se especializam cada vez mais e uma forte competitividade atua como meio de seleção no mercado de trabalho. A necessidade de controle nas empresas, na administração pública e nas inumeráveis instituições (esportivas, políticas, profissionais, religiosas etc.) confere a essas sociedades um caráter eminentemente burocratizado. É também uma sociedade basicamente urbana, na qual a concentração demográfica, a diversidade das profissões e as desigualdades na distribuição de renda promovem uma profunda divisão de classes com interesses conflitantes. 


A fraqueza do indivíduo isolado levou à proliferação de grupos de interesse (sindicatos, associações profissionais, sociedades agrárias etc.). A multiplicidade de associações dá lugar à existência de diversas elites que representam, ou dizem representar, uma determinada comunidade (etnia, sindicato, partido político etc.). Essas elites lutam entre si, atuando como pontas de lança de seus respectivos grupos de interesse, o que leva o conflito a constituir-se em elemento permanente da organização social fragmentada e diversificada da sociedade tecnológica. 
A mentalidade dominante na sociedade tecnológica também difere sensivelmente da que predomina na sociedade tradicional. A força da tradição é substituída pela racionalidade e a valorização da instrução. A mentalidade tecnológica prefere a mudança, que associa ao progresso, à permanência de costumes e valores. Em conseqüência, a desmitificação do mundo pela racionalidade e a ciência supõe uma profunda transformação da ética e da moral tradicionais, minando profundamente as crenças religiosas, num processo denominado "secularização". 

Organização social
 A unidade estrutural do grupo ou da sociedade traduz-se no conjunto das diferentes maneiras de co-adaptação e coordenação das atividades individuais e sociais, isto é, na organização social. Sistema de relações entre os membros de um grupo ou entre os grupos de uma sociedade, a organização social implica sempre direitos e deveres reciprocamente aceitos. Seu princípio básico é o da coordenação social, isto é, da harmonia social, que equivale ao papel que cada membro exerce em cooperação com os  demais integrantes do grupo. 
Em cada sociedade há uma hierarquia de valores materiais e não-materiais que diferem segundo os grupos e de acordo com a importância que se atribui a cada um dos elementos que integram sua cultura. Assim, observam-se na organização social as diversas formas de casamento, os tipos de parentesco, a estrutura da família, as formas de governo, as relações comerciais e de trabalho e muitas outras. 
A organização social depende basicamente da conservação das funções sociais e da divisão social do trabalho. A conservação das funções sociais refere-se à permanência e à continuidade da vida social: a sociedade deve manter íntegras suas instituições, ao longo das gerações que se sucedem, embora adote modificações naturais introduzidas de modo gradual pelos novos integrantes. A divisão social do trabalho garante que todas as funções necessárias ao funcionamento da sociedade sejam preenchidas.


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