Passeata também enfrentou ação de boicote de Dória na Avenida Paulista.
Organizações do movimento negro enfrentaram a típica garoa paulistana e a truculência do prefeito João Dória (PSDB) para tomar as ruas da capital na 14ª Marcha da Consciência Negra nesta segunda-feira (20).
Minutos antes de os manifestantes partirem do vão livre do Masp, Doria tentou
impedir a saída do carro de som, mas fracassou. A caminhada seguiu até o Teatro
Municipal e, mesmo sob ameaça de multa, os movimentos empunharam a bandeira da
luta contra o racismo, o genocídio e por um projeto político para o povo preto,
temas da mobilização deste ano.
Passado o momento de tensão, o dia foi marcado por celebração com atividades culturais, batucadas, rodas de capoeira e poesia de um povo que segue resistindo contra o avanço do racismo e da discriminação.
Passado o momento de tensão, o dia foi marcado por celebração com atividades culturais, batucadas, rodas de capoeira e poesia de um povo que segue resistindo contra o avanço do racismo e da discriminação.
Segundo a organização, a marcha reuniu 15 mil pessoas que lembraram o impacto do golpe sobre a população negra, a maior prejudicada por reformas, como a trabalhista, que retiram direitos básicos e que estão na pauta do governo golpista de Michel Temer (PMDB) e aliados do PSDB.
Para a secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da
Silva, as mudanças propostas por Temer, rejeitado por 97% da população, é um
desastre especialmente para quem mais precisa do Estado.
“Sabemos que as reformas feitas, como a trabalhista, e o congelamento
dos investimentos públicos irão nos afetar diretamente, já que a população
negra é a quem tem menores salários. Para as mulheres negras e os jovens que
estão no topo desta desigualdade, isso é trágico. É uma situação que se agrava
ainda mais com a falta de investimentos em políticas públicas.”
Diante deste cenário de retrocessos, o professor de História, representante da Uneafro Brasil e colunista do portal da Carta Capital, Douglas Belchior, avaliou que o genocídio dos negros também tende a se aprofundar na medida em que aumentam a crise social e a pobreza.
Diante deste cenário de retrocessos, o professor de História, representante da Uneafro Brasil e colunista do portal da Carta Capital, Douglas Belchior, avaliou que o genocídio dos negros também tende a se aprofundar na medida em que aumentam a crise social e a pobreza.
“O racismo é um instrumento de dominação do povo brasileiro por parte
das elites históricas, escravocratas e racistas. E, à medida que aumentam as
crises social e econômica, em que aumenta a pobreza, o racismo é o grande signo
de atuação e justificativa para repressão desse povo. Ela serve à repressão que
precisa dar conta de controlar as massas empobrecidas.”
Para Rosana, o caminho é a unidade e a mobilização nos locais de
trabalho e nas ruas. “Marchar é resistir ao racismo estrutural e estruturante
no Brasil”, ressaltou a dirigente.
Fundador do Movimento Negro Unificado (MNU), em julho de 1979, Milton Barbosa lembrou que mesmo diante das derrotas e dos retrocessos é preciso reconhecer que nos últimos anos de governos progressistas, avanços ocorreram no Brasil em programas de ação afirmativa, como as cotas raciais. E explicou que a luta contra o racismo é internacional.
Fundador do Movimento Negro Unificado (MNU), em julho de 1979, Milton Barbosa lembrou que mesmo diante das derrotas e dos retrocessos é preciso reconhecer que nos últimos anos de governos progressistas, avanços ocorreram no Brasil em programas de ação afirmativa, como as cotas raciais. E explicou que a luta contra o racismo é internacional.
“Todos os países que foram estruturados na escravidão e no colonialismo
têm o racismo na base de sua sociedade e isso precisa ser combatido. Esse papo
de cordialidade no Brasil, não é verdade. É um racismo violento que vivemos,
que mata jovens negros todos os dias nas periferias.
Ao lado do filho Nicholas, a dirigente do Sindicato dos Bancários e
Financiários de São Paulo, Osasco e região, Ana Marta Lima, destacou que
marchas como a da Consciência Negra representam uma experiência de
conscientização política. “Continuamos na luta mesmo diante do ódio e do
racismo que aumentam no Brasil."
Além da marcha na capital, outras ações ocorreram nas cidades de
Campinas, Presidente Prudente e Guarulhos.
Como milhares de outras brasileiras, a psicóloga Cátia Cristina
Cripriano, 46 anos, já sentiu na pele a discriminação racial e conta que,
apesar de parecer velada em algumas situações, fez parte do seu cotidiano de
mulher negra.
Só que por conta de um racismo disfarçado, Cátia explica que só tomou
consciência disso no movimento negro.
“Fui percebendo o racismo velado, entendendo porque não conseguia
alcançar algumas coisas como eu gostaria por conta de uma autoestima baixa.
Compreendi que minha autoestima foi destruída desde que eu era criança, o que
me fez trabalhar isso em mim desde então”, afirma ela, que se formou em
Psicologia aos 40 anos e hoje é aluna da especialização em Direitos Humanos da
Universidade Federal do ABC.
A violência vivida por Cátia e outras tantas ainda desconhecidas podem
ser explicadas a partir da compreensão do que foram os 380 anos de escravidão
que influenciam, até os dias de hoje, a sociedade brasileira, avalia o
professor Thiago Rubens da Silva, que leciona História do Brasil a estudantes
da região da Brasilândia, zona norte de São Paulo, e coordena cursos
comunitários pré-vestibulares.
“Hoje é um dia de luta, de protestos contra o governo ilegítimo de
Temer (PMDB) e o governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Inclusive temos denunciado
em organismos internacionais o genocídio que acontece nas periferias do
estado.”
Também foram realizadas marchas em diversas cidades do interior
paulista, Na foto, Campinas.
Assista como foi a manifestação em São Paulo: