Frantz Omar Fanon (Fort-de-France, Martinica, 20
de julho de 1925 – Bethesda, Maryland, 6 de
dezembro de 1961) foi
um psiquiatra, filósofo e ensaísta marxista francês da Martinica,
de ascendência francesa e africana. Fortemente envolvido na luta
pela independência da Argélia, foi também um influente pensador
do século XX sobre os temas da descolonização e
da psicopatologia da colonização. Suas obras foram inspiradas em
mais de quatro décadas de movimentos de libertação anti-coloniais.
Analisou as
consequências psicológicas da colonização, tanto para
o colonizador quanto para o colonizado, e o processo
de descolonização, considerando seus aspectos sociológicos, filosóficos e psiquiátricos.
É um dos fundadores do pensamento terceiro-mundista. Fanon esteve
na Argélia, então colônia francesa, onde trabalhou como médico
psiquiatra no hospital do exército francês. Lá testemunhou as atrocidades
da guerra de libertação travada pela Frente de Libertação
Nacional contra a dominação colonial francesa. Diante da violência do
processo colonial, Fanon se uniu à resistência argelina, participando
posteriormente de maneira ativa na política africana pós-colonial. No dia 20 de julho Frantz Fanon completaria 90 anos.
Como psiquiatra, filósofo, cientista social e
revolucionário, Frantz Fanon é um dos pensadores mais instigantes do século XX.
Sua obra influenciou diversos movimentos políticos e teóricos na África e diáspora
africana e segue reverberando em nossos dias como referência obrigatória nos os
estudos culturais e pós-coloniais.
Sua trajetória política e teórica impressiona
pela grandiosidade no curto espaço de vida. Nasce em Forte de France, Martinica
em 1925 no seio de uma família de classe média e patriota. Em 1944 se alista no
exercito francês para lutar contra os alemães na segunda guerra mundial e
posteriormente segue para Lyon para estudar medicina e psiquiatria. Neste
período foi estudante ativo envolvido com a publicação periódica de um jornal
mimeografado.
Em 1950 Frantz Fanon escreve o texto que seria
a sua tese de doutorado em psiquiatria: Peau noire, masques blancs (Peles
Negras, Máscaras Brancas), mas a tese, por confrontar as correntes hegemônicas,
foi recusada pela comissão julgadora o obrigando a escrever outra tese no ano
seguinte em Lyon com o título de Troubles mentaux et syndromes psychiatriques
dans l’hérédp-dégénération-spino-cérébelleuse – Um cas de maladie de Friereich
avec délire de possession (Problemas mentais e síndromes psiquiátricas em
degeneração espinocerebelar hereditária – Um caso de doença de Friereich com
delírio de posse).
Em 1952 participa de diversos debates
universitários e seminários em que se confronta ou converge com os pensadores
franceses da época. Neste mesmo ano publica uma série de ensaios sobre a
situação do negro na França, escreve um drama sobre os trabalhadores de Lyon
(Les Mains parallèles) e publica o texto da sua primeira tese rejeitada: Peau
noir, masques blancs (Peles negras, máscaras brancas) livro que marcaria a
história dos estudos o racismo.
Neste livro o autor discute os impactos do
racismo e do colonialismo na psique (de colonizadores e colonizados) e mostra o
quanto as alienações coloniais são incorporadas pelos colonizados, mesmo no
contexto de elaboração do protesto negro.
O ano seguinte é marcado por um casamento e a
sua mudança para a Argélia a fim de estudar mais profundamente os problemas
enfrentados pelos imigrantes africanos na França. Segundo Oto (2003) estes
momento foi fundamental para Fanon compreender os impactos do colonialismo na
estrutura psíquica humana:
Ao tentar ampliar suas percepções sobre o
problema dos pacientes em territórios coloniais, vinculando as enfermidades ao
colonialismo, Fanon aceita neste mesmo ano o contrato com o Hospital
Blida-Joinville na Argélia. Durante sua residência neste local os resultados de
suas investigações o convenceram das dimensões que o regime colonial
assumiam e como este regime desarticula a estrutura psíquica das pessoas. (Oto
2003:219)
O ano seguinte foi marcante para o autor ao
assistir o nascimento da revolução argelina e a violenta repressão francesa. É
neste contexto que Fanon renuncia ao seu cargo no Hospital psiquiátrico para se
filiar à Frente de Libertação Nacional – FLN (Front de Liberation Nationale)
onde contribuiria ativamente como escritor do jornal El Moudjahid, em Túnis.
Os anos seguintes foram marcados por intensa
agitação política e participação nos fóruns internacionais dos movimentos de
libertação no continente africano. Em 1959 publica L’an V de la Révolution
Algérienne, sem publicação em português, e em 1961 se encontra com J. P. Sartre
e S. Beauvoir. Neste mesmo ano, após escrever Les dammés de la terre, o ápice
de sua atividade política e intelectual seria interrompido por um problema de
saúde que levaria a morte.
Boa parte dos textos escritos por Fanon no
jornal El Moudjahid foram reunidos por sua esposa e publicados postumamente no
livro Pour la révolution africanie (1964), publicado em Portugal apenas em 1980
com o título “Em defesa da revolução Africana”.
A pesar de sua importância para a compreensão
das relações raciais contemporâneas, 50 anos depois de sua morte, a Obra de
Frantz Fanon ainda é pouco estudada no Brasil.
Vamos estudar Fanon?
Em reverência à sua trajetória, mas também,
interessados/as em discutir a atualidade da sua obra para o entendimento do
racismo na sociedade contemporânea, o Grupo Kilombagem oferecerá o Mini-curso
Fanon: vida e obra.
Espera-se com esta atividade despertar o
interesse da comunidade acadêmica como um todo para a discussão dos elementos
apresentados pelo autor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário